Olá! Seja benvinda (o) ao Rio Tua!

Este blog foi criado para partilhar saberes, opiniões, imagens, filmes sobre o rio, as populações e a linha de comboio. Numa época em que parece inevitável o desaparecimento de uma parte importante do vale do Tua, devido à projectada construção de uma barragem hidroeléctrica, pretendo com este blog promover a discussão sobre o destino do rio. Convido a participar quem acredite que a discussão e a partilha de ideias podem contribuir para uma democracia feita por todos! Reservando-me o direito de seleccionar os conteúdos a editar no blog, quero salientar que os critérios de publicação não se relacionam com as opiniões expressas (desde que identificados os autores), mas com a sua relevância para a discussão e com o respeito pelos leitores.
Envie as suas mensagens para riotuatom@gmail.com. Até já! Ana Barbeiro



segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Continuando a falar da barragem...

O assunto da barragem do Tua continua a dar (um pouco) que falar! Mas hoje de manhã teve direito a aparecer na página inicial da TSF ( http://www.tsf.pt/online/portugal/interior.asp?id_artigo=TSF187701 ). No entanto, nas pesquisas que tenho realizado não encontrei qualquer classificação do vale do Tua e da linha de comboio como paisagem protegida, património da humanidade, ou região demarcada (porém, parece parte da margem direita está integrada na região demarcada do Douro - ver mapa em http://www.ivdp.pt/imagens/gerais/RDD-enquadramento.jpg ). Portanto, acho que os argumentos legais ligados à classificação do território serão fracos. O que não significa, a meu ver, que o vale não devesse ser protegido!... Só que tem sido excluído dos mapas de valorização da região transmontana!

Faltam muitos esclarecimentos sobre a barragem, o seu impacto e os projectos futuros para o Tua, no caso de ser construída! Resta-nos procurar estes esclarecimentos, solicitá-los e divulgá-los, para que possamos tomar posições informadas!

Lanço também um desafio aos leitores: procurar mapas de paisagens protegidas, parques naturais, patrimónios nacionais, internacionais... etc., que incluam o vale ou parte dele e enviá-los para o blog!

Ana B

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Ponto da situação...

Olá!

Já me disseram que escrevo, escrevo, escrevo... É verdade que algumas das mensagens parecem muito compridas (mas será da formatação do blog!). As duas mensagens que publiquei sobre o Cachão têm muitas informações... pareceu-me que valia a pena divulgar estes textos, e ainda virá um terceiro!

Entretanto, a propósito da "história" do Cachão, ficam alguns pensamentos:
- Sobre a importância de um rio para a criação de uma comunidade, de indústria e de emprego;
- Sobre o que uma indústria pode fazer a um rio;
- Sobre a importância de uma via férrea para o nascimento e crescimento de uma comunidade e de uma indústria;
- Sobre a importância de modernizar as vias de acesso a uma comunidade para que ela não desapareça!

Lembro-me de que quando o CAICA estava moribundo se espalhou um boato entre os trabalhadores, cuja imaginação talvez tenha sido movida pelo desespero: a construção de um aeroporto poderia salvar as fábricas! Pois, mas esta "margem" nordeste do país poderia também ser apelidada de "deserto"... O mesmo se aplicaria quanto à ideia peregrina de fazer passar um TGV por esta ponta do país, que é a que está mais perto do resto da Europa... e mais longe!

Só mais uma provocação: devemos construir infra-estruturas em sítios que não são desertos, ou poderemos decidir, em harmonia com as condições naturais de um local, se ele se transformará num deserto ou nele crescerá uma comunidade?

Vou continuar a matutar...
Ana B

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Lugar de Cachão: o rio, a linha, as fábricas e a sua "história"

O lugar de Cachão situa-se junto ao rio Tua, a três quilómetros da sede de freguesia (Frechas), situada no percurso entre Cachão e Mirandela. A toponímia do lugar é habitualmente associada ao rio, já que este fazia, nesse local, um cachão – Cachão deriva do termo latim coctione, cujo significado é borbulhão, ou queda de água aos cachões, ou borbotões (Lello & Lello, 1974). Foi-nos dito por antigos trabalhadores do Complexo Agro-Industrial que antes deste ser construído, existiam duas azenhas (das quais ainda restam vestígios) e armazéns de produtos agrícolas junto da linha de comboio, bem como habitações para três famílias. Estes trabalhadores associavam as raízes do lugar ao seu destino industrial, pois as condições naturais e a intervenção do homem assim o tinham tornado propício.

A linha-férrea, que serpenteia ao longo do rio Tua e tem ligação com a linha do Douro, terá sido um factor importante na escolha deste local para a construção do complexo, assegurando o transporte das matérias-primas e principalmente dos produtos transformados. O rio assegurava a água necessária, e o vale relativamente plano da sua margem esquerda, sendo pertença do Estado, permitia a construção de um grande conjunto de instalações (Pinheiro, 2001). Deste modo, em 1964 foi fundado o Complexo-Agro-Industrial do Cachão, construindo-se de seguida um bairro operário com 137 casas na elevação adjacente às fábricas. Foi assim que uma pequena comunidade foi fundada neste lugar; actualmente existem já outras habitações para além das pequenas casas do bairro, uni-familiares e construídas em cantaria; porém, a maior parte dos actuais cerca de quinhentos habitantes do lugar de Cachão moram ainda no bairro (Informação recolhida na Junta de Freguesia de Frechas).

A criação e a dinamização do CAICA são atribuídas a um natural da região transmontana, o engenheiro Camilo de Mendonça, com o apoio do governo de António Salazar. Este projecto estava relacionado com outro, mais vasto, que consistia na criação da Federação dos Grémios da Lavoura do Nordeste Transmontano, com os objectivos de incentivar e desenvolver a produção, ao nível da transformação local dos produtos agro-pecuários da região. Tratava-se de um projecto que envolvia toda a região transmontana, procurando dinamizar-se cada zona nas suas especificidades de produção agro-pecuária, reduzir o tempo e o custo dos transportes e chegar sempre que possível ao fim do ciclo de transformação, incorporando o máximo de mão-de-obra local (Pinheiro, 2001).

Deste modo, foi elaborado um plano que incluía o estudo das potencialidades produtivas da região transmontana, ela própria com zonas de micro-clima (por exemplo a terra fria transmontana, na zona Norte, e o vale temperado da Vilariça, a sul). A intervenção compreendia os principais produtores, federados em Grémios da Lavoura. Projectou-se também a construção de uma rede de albufeiras, algumas das quais foram realmente construídas e ainda existem (por exemplo, a pequena barragem do Cachão), e promoveu-se a mecanização da agricultura e da pecuária, alugando máquinas aos proprietários (id).

O complexo fabril do Cachão iniciou a sua actividade em 1964, empregando em pouco tempo centenas de trabalhadores, entre os que estavam nos quadros e os que trabalhavam à tarefa (cerca de 850, ainda na década de sessenta). Com a construção do bairro, pertença da federação, os trabalhadores instalaram-se, vindos de diversos locais da região transmontana e de outras zonas do país. Os ex-trabalhadores relataram-nos que nessa época o Cachão parecia uma “grande obra”, e parecia ter um “bom futuro”. Alguns deles terão saído da função pública para se empregarem no complexo, pois os salários eram mais elevados e afigurava-se um trabalho promissor.

O complexo destinou-se essencialmente à valorização e expansão das produções agro-pecuárias regionais através da sua transformação industrial e consequente comercialização, não só para o mercado interno, mas principalmente para o mercado externo. As unidades industriais que o compunham diziam respeito aos sectores da fruticultura, horticultura, destilação, vinhos, azeites e pecuária.

A partir de 1974 deram-se as primeiras grandes convulsões na empresa, relacionadas com a revolução de Abril. O património dos Grémios da Lavoura foi integrado, em 1976, nas Cooperativas e o Estado passou a tomar conta do Complexo do Cachão. Neste contexto foram incluídos nos quadros da empresa os trabalhadores que até então aí prestavam serviços, consoante as necessidades sazonais de mão-de-obra (id). Deste modo a empresa passou abruptamente de cerca de 300 para 1200 assalariados, o que implicou, nos anos subsequentes (entre outras razões referidas pelos trabalhadores com quem falámos), o início das dificuldades financeiras do CAICA.

No início de 1981 a empresa foi constituída em sociedade anónima, pertença do Estado, mudando novamente de gestão. Os objectivos do CAICA-S.A. eram a viabilização da empresa, tendo em conta as suas potencialidades, e o desenvolvimento sócio-económico de Trás-os-Montes e Alto Douro. No entanto, a situação foi-se agravando ao longo da década de oitenta, acumulando-se as dívidas na banca, e crescendo as dificuldades de fazer concorrência ao mercado aberto que se sucedeu à entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia. A situação geográfica do Complexo, longe dos principais centros de consumo, e as tortuosas vias de comunicação da região encareciam os produtos e dificultavam as funções comercial e de distribuição da empresa. Os salários dos trabalhadores chegaram, por vezes, a ser pagos com meses de atraso. Por outro lado, existe um consenso no que respeita à boa qualidade atribuída aos produtos, mas estes eram produzidos em pequenos quantidades, o que dificultava a sua distribuição no mercado fora do país.

Em 1986, numa última tentativa de viabilizar a empresa, constituiu-se, sob o governo de Cavaco Silva, uma Comissão de Avaliação formada por um representante dos lavradores, um representante do Ministério da Agricultura e um do Ministério das Finanças. Esta comissão decretou que 48% do capital da empresa serviria para formar a União de Cooperativas, pertencendo as restantes acções ao Estado (Pinheiro, 2001).

No fim do terceiro trimestre de 1992 o CAICA cessou a sua actividade, na sequência da falência decretada pelo tribunal. Os trabalhadores foram dispensados e receberam indemnizações consoante o seu posto de trabalho e os anos de serviço prestados à empresa (Informação recolhida junto de uma ex-trabalhadora, que participou no processo de encerramento da empresa).

A maior parte do património que restou do antigo Complexo (quase 98%) foi posteriormente entregue às Câmaras Municipais de Mirandela e de Vila Flor (sede de um dos concelhos adjacentes ao de Mirandela, que dista treze quilómetros do Cachão). Actualmente este património é administrado por uma sociedade representante de todos os acionistas, a A.I.N. (Agro-Industrial do Nordeste, S.A.).

As instalações do Complexo foram arrendadas por pequenos empresários que procederam à modernização dos equipamentos, de acordo com os contratos feitos com as próprias Câmaras. Desta forma, encontravam-se instaladas no Complexo, em 2001, vinte e uma empresas compreendendo no total cerca de duzentos postos de trabalho. Estas empresas não pertencem apenas ao sector agrícola, mas também ao sector industrial e comercial (Pinheiro, 2001).

Esta “história” do Complexo data de 2003: agradeço o envio de informações sobre os últimos 5 anos!

Adaptado de:
Barbeiro, A. (2003). Eles, nós e eu, aventuras juvenis: estudo qualitativo sobre a transgressão na adolescência. Dissertação de Mestrado em Psicologia, com Especialização em Psicologia da Justiça. Braga: Instituto de Educação e Psicologia – Universidade do Minho (pp.128-132).

Estas informações foram recolhidas a partir de entrevistas a antigos trabalhadores e dirigentes do Complexo e de:
Pinheiro, R. (2001). Desenvolvimento dos recursos humanos locais no Complexo do Cachão – a vertente da formação. Dissertação de Mestrado apresentada no Instituto de Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Para as escolas...

Olá de novo!
Graças à nova funcionalidade de contagem de visitantes do blog, pude verificar que temos visitantes de escolas! Assim, lembrei-me: porque não criar um "espaço-escola" destinado a receber e divulgar contributos de estudantes miúdos e graúdos?! Fica a proposta. Enviem desenhos, textos, notícias e o que mais forem produzindo sobre o Rio Tua.
Ana B

domingo, 13 de janeiro de 2008

Vila Nordeste - Cachão

“O bairro é... um bairro. Só lá entra quem lá tem alguma coisa a fazer; o caminho de entrada e saída é o mesmo. As casas são unifamiliares, umas maiores do que outras, mas de qualquer forma parecem pequeninas. Mas são bonitas, vivendinhas térreas, brancas e com cantaria à vista, com um espaço de jardim para cada uma. Cães, gatos, crianças, mulheres nos passeios estreitos e na estradinha que serpenteia labirinticamente bairro acima. Roupa a secar nos jardins e mesmo no passeio, entre duas árvores. Telheiros, garagens, arrumos ou depósitos de lixo foram acrescentados às casas; há jardins cuidados, casas pintadas de cores diferentes, modificadas, e casas velhas, degradadas. Algumas abandonadas.
O carro vai seguindo por entre as casas, virando à esquerda, à direita, sem saber se vai encontrar outro carro ao virar da esquina; sobe-se devagar.
Quase lá em cima, depois de ter passado no coração do bairro, chegamos à ponta superior. Um descampado pequenino, e fragas a ladear a estrada; para o outro lado, o monte começa a descer. Ali o Cabeço, (monte mais alto) é omnipresente, tanto mais que a sua sombra se alonga sobre o bairro a partir do meio da tarde, contrastando com os montes ofuscantes do lado oposto, que no Verão reflectirão o seu calor sobre a aldeia.
O bairro termina em ponta; uma casa um pouco afastada, cercada de anexos de lata, encima o conjunto. Algumas mulheres estão cá fora. Páro o carro, cumprimento, o Grande faz um aceno de cabeça. Abrigamo-nos dos olhares, sentando-nos de costas sobre um rochedo; acendemos dois cigarros, e ele começa a fazer-me uma panorâmica guiando o meu olhar com a mão. O bairro desce aos nossos pés, e o Complexo, gigantesco, ocupa metade do vale; é todo vedado e composto por pavilhões, edifícios antigos e outros um pouco mais recentes, zinco e chaminés altas. Um edifício enorme, mesmo em frente ao bairro, que nunca chegou a ser finalizado; tijolo escavacado, cimento, ausência de telhado. Uma visão de decadência, que o olhares do bairro não conseguem ignorar (no sentido de dar nas vistas, não me parece que os habitantes ainda reparem...). De qualquer forma, nota-se bem que dentro do Complexo há zonas que estão a ser utilizadas e outras totalmente abandonadas. A entrada do Complexo, com cancela e porteiro, fica do lado do bairro (só então compreendi porquê, pois parecia-me ilógico, para quem chega de Mirandela, ter à entrada da aldeia as costas do Complexo). É uma máquina interessante, dois mundos que comunicam, que quase existem um para o outro. Duas bocas que se abrem: saída de um, entrada do outro, conforme o sentido a adoptar; entre os dois, apenas a estrada estreita.
Ao lado do Complexo, a estrada principal passa na parte antiga, com os tascos e cafés, a mercearia, o talho. Não há pelourinho, não há largo, jardim ou bancos. Apesar disso, a estrada alarga-se numa parte, mas é só estrada com pequenos passeios e pessoas sentadas ou em pé à porta dos cafés. De qualquer forma, tenho encontrado muitas vezes uma impressão de deserto ao passar por lá. Um sossego de campo numa paisagem que por momentos diria suburbana.
O Grande fala-me do rio, ao lado esquerdo da aldeia, poluído pelo matadouro, do cheiro nauseabundo no Verão. Agora está melhor, desde que fizeram a estação de tratamento. No Verão os jovens vão para o rio, “por cima” (a montante) do Complexo.
Do lado direito os montes brilhantes. Vejo a estrada de chegada à aldeia, que desaparece nas curvas para Mirandela. À entrada do Cachão há um cruzamento com uma estrada que parte para o lado direito. Algumas casas a ladeiam. O Grande diz-me que é o caminho do cemitério e da barragem. Vão para lá pescar, fazer festas à noite – pescar, na barragem, festas nos dois.
A aldeia parece então composta por três zonas demarcadas: o bairro dos trabalhadores (Vila Nordeste), o Complexo, o Cachão Velho.
Vamos até ao campo de futebol. O campo também fica num dos extremos superiores do bairro, com um muro alto a separá-lo das casas e de alguns descampados. Sente-se também alguma ruína. Entramos e subimos para as bancadas de cimento e tijolos escavacados. Um buraco no meio indica a entrada para os balneários.
O campo parece repartido pacificamente por vários grupos. Os mais velhos ficavam com o meio do campo, jogando entre duas balizas pequenas. Numa das balizas de um extremo um grupo de gaiatos. Por aqui e por ali mais gaiatos, no campo e nas bancadas. Fico um pouco a vê-los, e a conversar com o Grande. Aquele é um lugar muito importante, de reunião dos homens e rapazes; também raparigas e mulheres, que por vezes vão dar uns pontapés. Ouvi vários relatos de um jogo de casadas contra solteiras, realizado há pouco tempo.
A sombra do cabeço arrepia-me; as bancadas já perderam o calor. Vou embora e despeço-me com um aceno. Serpenteio até Mirandela, com a cabeça cheia de sol, de ideias e de cansaço" (Diário de Campo, 2000).

In:
Barbeiro, A. (2003). Eles, nós e eu, aventuras juvenis: estudo qualitativo sobre a transgressão na adolescência. Dissertação de Mestrado em Psicologia, com Especialização em Psicologia da Justiça. Braga: Instituto de Educação e Psicologia – Universidade do Minho. (pp. 192-194).

(O meu agradecimento ao Grande, pela sua visita guiada, e a todos os que participaram nesta trabalho!)

Banhocas no Tua e qualidade da água


Olá!
Graças aos contributos do Nuno Ferreiro já temos reunidas informações importantes sobre os aspectos balneares do Tua. Por enquanto é possível consultá-las nos comentários à mensagem «"genes" da aprendizagem». Começa, assim, a definir-se um dos temas deste blog. Obrigada, Nuno!
Ana B

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

"genes" da aprendizagem

Quem, nos últimos anos, se encontrou comigo em situações de ter de trepar rochedos e saltar calhaus, surpreendeu-se... habituada à minha constituição franzina e jeitos pouco dados a desportos, o meu comportamento de salta-pocinhas nestas situações é uma revelação, mesmo para mim! Pensando bem nisso, acho que me está nos “genes” das aprendizagens precoces. Do tempo da infância e adolescência, em que as férias do Verão eram muito longas e quentes, e éramos nós que inventávamos as actividades de tempos livres: os passeios de bicicleta, as idas ao rio, as “explorações” da natureza. Do tempo em que se faziam os piqueniques tradicionais: comer o folar da Páscoa, fazer magustos em Novembro. O Rio Tua estava no centro destas aprendizagens e aventuras. Sei-o, porque no Verão, quando atravesso alguma das pontes de Mirandela, o cheiro a rio (um mistura de odores de lodo e algas) percorre-me o corpo e deixa-me um arrepio de calor. E se alguém for a caminhar a meu lado, tem direito a ouvir, talvez pela terceira vez, uma história de aventuras da infância, ou um convite para ir tomar uma banhoca ao Rio e inundar a pele com o macio cheiro da água.

A crescer...

Olá!
Ainda estou a construir o esqueleto do blog, mas parece que já está a ter visitas! O meu projecto é que ele possa ter diversas páginas dedicadas a temas específicos (aldeias, barragem, linha do Tua, ecologia do vale do Tua...). Para isso precisarei de tempo e de contributos em forma de mensagens assinadas a enviar para tua.rio@gmail.com (diferente de comentarios às mensagens publicadas, que também são benvindos!). Por enquanto, ficamos com esta página generalista, onde se publicarão mensagens sobre temas diversos. Para além de contributos informativos ou de opinião, serão muito benvindos textos sobre vivências / experiências pessoais do rio e do seu ambiente natural e humano (crónicas sobre passeios, festas, memórias de infância...). Assim, fica o desafio aos visitantes e habitantes do Rio Tua: este blog é nosso! podemos fazer dele o que quisermos!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Depois de uma caminhada


Há alguns anos, ainda não havia metro na linha do Tua, fiz com frequência este percurso de comboio, em conjunto com o da linha do Douro. Se esta tem encantos indiscutíveis e muito divulgados, o percurso no Tua sempre foi o ponto alto das minhas viagens. O livro ficava abandonado no banco, e eu permanecia de nariz colado ao vidro... As companhias - as gentes transmontanas que usavam este transporte - eram também um aspecto da viagem que muito me agradava. Construiu-se o IP4, prático para quem queria demorar menos de três horas (de autocarro) ou cinco (de comboio) de Mirandela ao Porto. Inventou-se o metro, mesmo antes do do Porto, e a linha pôde continuar a servir os poucos, mas também cidadãos de Portugal, que ainda habitam aquelas paragens.

Hoje voltei ao Tua, desta vez para fazer um passeio pedestre entre a aldeia de Tralhariz e a linha, que percorri, com um excelente guia e alguns amigos, durante algumas centenas de metros. Depois subimos novamente à aldeia, onde o café Sanzala tem uns simpáticos clientes e um vinho fino que nos recompensaram do cansaço da caminhada.

Dói-me o coração pensar que estas experiências deslumbrantes se podem perder para sempre; mas também compreendo os transmontanos que dizem que têm direito, como os outros portugueses, de viver numa terra onde a civilização também chegue. Trás-os-Montes não pode continuar a ser o museu natural, selvagem e abandonado do país, cada vez mais deserto de gentes, onde os velhos que ficam estão cada vez mais desprotegidos, à custa da protecção da paisagem.

Mas os transmontanos também não podem continuar a ser sacrificados, as suas ainda deficientes vias de comunicação reduzidas (desta feita com o “afogamento” da linha), a sua paisagem e modo de vida violentados, à custa do progresso do país!

Como compatibilizar, então, todas estas necessidades contraditórias? Não tenho uma resposta simples. Por enquanto, parece-me importante promover um amplo debate, ouvir os habitantes, os especialistas da paisagem, da fauna e da flora, os políticos, os admiradores das viagens de comboio (mais prático e ecológico dos que as auto-estradas). É importante que as opiniões e as tomadas de posição sejam feitas de modo informado!

Gostei muito do passeio de hoje, e gostaria de o fazer ainda muitas vezes nos próximos anos. Mas não será à custa deste prazer que desejo que a seca se agrave ainda mais na terra quente transmontana, ou que o país continue a sua depender grandemente do petróleo para ter energia... o meu desejo, talvez quimérico, é que haja políticos inteligentes que tomem decisões ouvindo e tendo em conta os interesses globais e particulares dos seus eleitores, mesmo os das minorias que persistem em habitar as inigualáveis terras transmontanas! Defendo, assim, que as opiniões, necessidades e posições de todos, particularmente os mais afectados, sejam tidas em conta, antes de uma decisão final.
28/12/2007 (texto também publicado no livro de visitas do Movimento Cívico pela Linha do Tua)